Argal Espada Quebrada (parte VI)
Tudo
que se passou foi rápido demais. Argal observou seus irmãos batalhando contra
os inimigos, viu jovens que deveriam ainda ser aprendizes lutando por suas
terras, suas vidas. Viu os cadáveres de seus aliados e companheiros, tombados
durante o confronto. Olhou como o Sol se erguia imponente perante tudo o que
acontecia, os campos do vale cobertos de sangue, as árvores dançando ao som da
batalha e o toque do vento. As ondas do mar que podiam ser ouvidas ao longe
quando batiam contra as rochas e o sussurro dos grandes espíritos que guiavam
seu coração na batalha pela honra. O Sol mantinha-se no topo como um grande
senhor que observava tudo como se não fosse uma guerra, mas sim um espetáculo
no qual os pequenos homenzinhos lá embaixo brigavam uns contra os outros, como
formigas lutando por comida.
Bereth Lärund percebeu a desatenção
momentânea de seu adversário e avançou com suas espadas desferindo um poderoso
golpe, Argal deixou seu corpo cair para um lado, desviando-se do golpe de seu
inimigo. Dando um chute nas pernas de Bereth, fez com que o mesmo fosse ao
chão. Levantando-se com um salto, chutou para longe uma das espadas negras e
tentou encravar sua espada prateada no peito do oponente, que girou para o lado
escapando do golpe e se levantando. Os dois guerreiros entreolharam-se, a
ferida de Argal já não doía mais como minutos atrás apesar do sangue continuar
saindo. Bereth pulou com todas suas forças em sua direção empunhando sua espada
com as duas mãos, seus braços fortes e treinados atingiriam o alvo com força
total. Argal tomou sua espada com ambas as mãos e se defendeu do golpe, o
choque das armas trovejou. Um clarão iluminou brevemente o campo de batalha. Um
pedaço de lâmina prateada caía do alto e se encravava na terra.
Bereth sentia uma dor aguda
percorrer um de seus braços, um enorme racho era visível em sua lâmina. A
batalha entre os dois sobre humanos estava em seu clímax, os próximos instantes
determinariam o final do embate. Empunhando sua espada negra com apenas um
braço, Bereth Lärund se preparava para prosseguir com o duelo. Argal recolheu o
pedaço de sua lâmina e o depositou em sua bainha.
Os dois guerreiros se encaravam, o
duelo continuava incessante em suas mentes, ambos aguardavam por uma brecha,
qualquer uma, para desferir o próximo golpe. Atacaram ao mesmo tempo e trocaram
alguns golpes. Apesar de seus ferimentos, Argal atacava vigorosamente e com uma
força sem igual, cada golpe fazia com que Bereth dobrasse as pernas para
conseguir se manter em pé. Percebendo isso, mesmo que de forma sutil, Argal
forçava cada vez mais seu adversário. Os ataques eram tomados por uma fúria
incandescente e inabalável, a sucessão de golpes foi tão devastadora que fez com
que Bereth caísse de joelhos, soltando um grito tão forte que pôde ser ouvido nas profundezas da floresta encantada de
Ilinrada, no mais escondido dos salões anões em Tardä e pelo Deserto das
Lágrimas.
Bereth Lärund, o último membro da extinta organização dos
Mercenários da Sombra, atual líder da Guilda da Lâmina Negra, olhava com
assombro para o gigante que brandia a espada em sua direção. A cabeça do
mercenário caía no campo de batalha com um baque seco. Os soldados, pasmados,
observavam a cena lendária que se desenrolava perante seus olhos.
Argal viu o corpo de seu arqui-inimigo tombar desprovido
de vida, a batalha pareceu ter silenciado por alguns segundos. Embainhando o
que restava de sua espada quebrada, começou a caminhar entre os guerreiros que combatiam
incessantemente. Olhava para frente, como se houvesse algo além do horizonte,
sua face não aparentava expressão alguma. Afastando-se da batalha, chegou até
uma clareira aberta no meio do campo, pela maneira como a vegetação crescia
ali, dentro de alguns anos um pequeno bosque surgiria naquele lugar. Em sua
mente, pensamentos sobre suas batalhas corriam soltos. Pensava no Sol e na
guerra, pensava no Ocidente livre e em seus irmãos. Pensava no futuro de
Aetheria e no seu próprio. Mesmo com a guerra que acontecia a poucos metros, a
paz que reinava no lugar chegava a ser sobrenatural.
Começou a observar sua espada quebrada e em como a
conseguira, o significado por trás daquilo tudo. Um sorriso se abriu em seu
rosto inexpressivo até então. Um sentimento tomava conta de sua mente, uma
sensação percorria seu corpo. Aquilo pelo que buscara durante toda sua vida
finalmente lhe chegara, mesmo não podendo descrever ele conseguia senti-lo. A
glória pela qual batalhara até então fora alcançada. Argal Aran sabia que
poderia finalmente descansar com honra.
Fim da sexta parte...
En Taro Adún!
Jack.
Dica de música enquanto estiver lendo a sexta parte da saga de Argal Espada Quebrada!
Jack.
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